Thiago Marzano On agosto - 18 - 2011

Blade Runner (1982)

O Filme Blade Runner (1982) de Ridley Scott, um dos símbolos nerds mais fortes da década de 80, trata de questões importantes, quase filosóficas, usando uma mistura de filme policial noir com ficção científica.

Nele ocorre o confrontamento entre os humanos e replicantes, seres gerados artificialmente que imitam perfeitamente não só a aparência externa dos humanos, mas também são capazes de observar sensações (tornando o homem uma espécie de Deus, que é capaz de criar com perfeição um indivíduo a sua própria imagem), possuindo um comportamento tão ou mais complexo que os próprios seres humanos.

Os replicantes são os caçadores da vivência, enquanto que os humanos os caçam, tentando matar aquilo que tem medo que sejam eles mesmos. Essa fronteira tênue entre humanos e replicantes nos leva as questões como o que distinguiria o comportamento do ser humano com uma réplica, como saber se indivíduos que nos rodeiam não são réplicas, ou se nós mesmos não somos réplicas? Será que existe algum critério para caracterizar um ser humano? O filme até mostra um suposto teste, uma tentativa criada também pelo homem de distinguir, mas será que seu próprio criador passaria nesse teste?

Essa necessidade de vivenciar dos replicantes pode ser caracterizada como uma busca por sua própria liberdade, uma característica forte do filme, vista principalmente na sua cena do “confrontamento” entre Rick Deckard (uma das melhores interpretações de Harisson Ford) e o replicante Roy Batty (Rutger Hauer), onde podemos até nos perguntar quem na verdade seria o ser humano da cena.

Outro símbolo muito forte desse filme é o olho, a entrada para a alma, a característica da presença de consciência, diretamente ligada com a presença de memória, pelas fotos que aparecem ao longo da história.

Ao longo do filme, os replicantes também mostram suas qualidades, seus sentimentos, suas tristezas, o que acaba por, de certa forma, nos colocar lado a lado com eles, num sentimento de empatia e proximidade com suas questões de vida. Nesse ponto os replicantes deixam de ser simples “robôs” e se tornam homens, mostrando que a temática principal do filme gira em torno de nós mesmos.

As questões deste filme da década de 80 parecem continuar até os dias de hoje. Um caso que se aplica diretamente a essa discussão é o dos praticantes do mundo BDSM. (a sigla que descreve suas práticas: Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão e SadoMasoquismo). O BDSM tem o intuito de trazer prazer sexual através da troca erótica de poder, que pode ou não envolver dor, submissão, tortura psicológica, cócegas e outros meios, sempre respeitando consenso entre os participantes.

Roy Batty

O histórico BDSM provem de antigas práticas de tortura, um dos principais motivos da maioria da sociedade não entendê-las. Não seriam as sensações que Roy demonstra sentir no filme as mesmas que os praticantes sentem com seus fetiches? O próprio Deckard não seria um replicante, que mesmo tentando eliminar seus “semelhantes” demonstra um pouco de seus medos? Roy nos momentos finais fala “Viver com medo é uma experiência e tanto, não é? É o mesmo que ser escravo”, os mesmos medos que as pessoas, escravas da sociedade (termo escravo totalmente diferente do escravo submisso do BDSM), apresentam ao tentar entender o meio das práticas fetichistas.

Uma das últimas cenas do filme, quando Roy morre e solta a pomba que carrega consigo, o maior símbolo de paz e liberdade, dá a conclusão necessária para esta comparação: a liberdade para sentir e se expressar, apesar das “baixas” no meio do caminho, ainda há de chegar.

(Postado no blog Nerdeliciouss uns meses atras e repostado aqui)

 

 

 

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