Thiago Marzano On janeiro - 31 - 2014

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Hoje estréia um filme nacional que vale muito a pena. Quando eu era vivo é um thriller psicológico que fala sobre complexas relações familiares e a impossibilidade de recuperar o passado, sob um inusitado viés de suspense. O filme é baseado no livro “A Arte de Produzir Efeito Sem Causa” (Companhia das Letras), de Lourenço Mutarelli. Tive oportunidade de assistir a cabine e a entrevista coletiva então vou falar um pouco sobre o filme.

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Após um divórcio traumático, Júnior (Marat Descartes) busca abrigo na casa do pai, Sênior (Antonio Fagundes), com quem mantinha uma relação distante. Lá, nada lembra o lar em que viveu quando jovem. O pai se tornou um homem estranho, rejuvenescido à base de exercícios físicos e bronzeamento artificial. Os objetos e fotos da mãe, morta há alguns anos, foram encaixotados e trancados no quartinho dos fundos. No quarto que dividia com o irmão, Pedro (Kiko Bertholini), agora vive a inquilina Bruna (Sandy Leah), jovem estudante de música que veio do interior para se formar. Após encontrar objetos que remetem ao passado e à sua mãe, Júnior desenvolve uma obsessão pela história de sua família e tenta recuperar algo que aconteceu em sua infância e que, até hoje, o assombra.

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Quando eu era vivo segue uma vertente que foge do padrão comercial nacional, onde 90% dos filmes são simples comédias. O diretor Marco Dutra mostra que bons thrillers podem surgir e fugir da mesmice. O próprio Fagundes comentou sobre esse tema em entrevista ao G1 após a cabine de imprensa: “Quando li o roteiro, fiquei muito impressionado com a qualidade. É muito bem escrito e preserva a essência do livro do Mutarelli. E o Marco é um diretor de mão cheia, que pode dizer que assinou uma série de trabalhos bons. Não tem coisa mais complicada do que você pegar uma pessoa que está sentada numa poltrona confortável e fazer essa pessoa ter medo. Se você consegue dar um arrepiozinho, é porque você é um mestre. Infelizmente, nós temos muito poucos mestres no Brasil”.

Realmente falta um pouco de vontade para criar boas histórias no Brasil, e esse filme impressiona nesse sentido. Os roteiristas Gabriela Amaral Almeida e Marco Dutra conseguiram adaptar a obra de Mutarelli nos presenteando com cenas muito bem trabalhadas e contribuindo para deixarmos para trás anos de roteiros ridículos de algumas produções nacionais. A fotografia está primorosa, lembra muito “O Bebe de Rosemary”, se transformando ao longo do filme para adaptar ao clima de suspense crescente. Segundo Dutra, as cenas de gravações antigas da família foram realmente feitas em formato VHS, para dar veracidade a produção. A montagem de Rojas e a fantástica trilha instrumental contribuem para os momentos de tensão tanto quanto as atuações.

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Fagundes como Senior mostra todo o talento que muitas vezes é podado pela TV, com um personagem que apesar de incomodado com a estranheza da situação, ama o filho e quer o melhor para ele, mesmo não sabendo demonstrar. Outro destaque do filme foi a atuação de Marat Descartes que consegue passar o medo necessário que o personagem precisa. Marat disse também na coletiva que ver Jack Nicholson em “O iluminado” (1980) e ler o tratado “Luto e melancolia”, do Freud, foram suas maiores referências para construir o personagem.

Elenco na Coletiva

Elenco na Coletiva

O filme é um suspense psicológico muito bom e vale a pena assistir e valorizar uma produção brasileira com qualidade. Espero que agora surjam mais filmes bem produzidos como esse. Recomendo!!!

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Ficha Técnica:

QUANDO EU ERA VIVO
Baseado no livro “A Arte de Produzir Efeito Sem Causa”, de Lourenço Mutarelli
Direção: Marco Dutra
Elenco: Antonio Fagundes, Marat Descartes, Sandy Leah, Gilda Nomacce, Kiko Bertholini, Helena Albergaria, Rony Koren, Tuna Dwek, Lourenço Mutarelli, Eduardo Gomes, Lilian Blanc, Carlos Albergaria e Marc Libeskind
Produção: Rodrigo Teixeira
Produção Executiva: Raphael Mesquita
Roteiro: Gabriela Amaral Almeida e Marco Dutra
Direção de Fotografia: Ivo Lopes Araujo
Direção de Arte: Luana Demange
Figurino: Diogo Costa
Maquiagem: André Anastácio
Montagem: Juliana Rojas
Comontador: Bernardo Barcellos
Desenho de Som: Daniel Turini e Fernando Henna
Mixagem: Paulo Gama
Som Direto: Gabriela Cunha
Música: Guilherme Garbato, Gustavo Garbato e Marco Dutra
Duração: 179 min.
Ano: 2013
País: Brasil
Gênero: Suspense, Drama, Terror
Cor: Colorido
Produção: RT Features
Distribuidora no Brasil: Vitrine Filmes
Data de estréia: 31 de Janeiro de 2013
Classificação: 12 anos

Categories: Cinema, Dicas do Marzano, Geral